terça-feira, 22 de março de 2016

Por que um dançarino nunca fica tonto?


Foto: Filippe Araujo

Há quem diga que dançarinos são seres de outro planeta. Eles podem saltar bem alto, ter o corpo de borracha, a força de um lutador de sumô com um corpinho pequeno e girar sem ficar tonto. Foi a partir dessa curiosidade que um estudo identificou diferenças importantes em suas estruturas cerebrais que os impedem de sentir tonturas durante essas rodadas intermináveis.
Os resultados, publicados na revista Cerebral Cortex, mostram que os anos de treinamento permitem que dançarinos supram os sinais dos órgãos de equilíbrio no ouvido interno, fazendo com que eles não caiam. Esse estudo pode ajudar a melhorar o tratamento de pacientes com tontura crônica, doença que pode afetar as pessoas em algum momento durante suas vidas.

Normalmente, a sensação de tontura decorre dos aparelhos vestibulares no ouvido interno, também conhecido como órgão gravitoceptor. Nos humanos, este sistema é composto pelos três canais semicirculares que se fundem numa região central denominada vestíbulo, que apresenta duas outras estruturas vesiculares: o sáculo e utrículo, também conhecidos como órgãos otolíticos. m situações de movimentação, a endolinfa encontrada no interior dos canais semicirculares caminha em direção oposta ao movimento da cabeça. O sistema vestibular é constituído por uma estrutura óssea dentro da qual se encontra um sistema de tubos membranosos cheios de líquido, cujo movimento – provocado por movimentos da cabeça – estimula células ciliadas que enviam impulsos nervosos ao cérebro ou diretamente a centros que controlam o movimento dos olhos ou os músculos que mantêm o corpo numa posição de equilíbrio.
Depois de se virar rapidamente, o fluido continua a se mover, o que pode fazer você se sentir como se você ainda está girando. Porém, bailarinos podem executar várias piruetas com pouca ou nenhuma sensação de tontura. Isso se deve a uma técnica que envolve mover rapidamente a cabeça para fixar o olhar no mesmo local, tanto quanto possível.


Foto: Ronise Ramos

Pesquisadores do Imperial College de Londres recrutaram 29 bailarinas para comparar com outras 20 mulheres com idade e níveis de aptidão semelhantes. As voluntárias foram colocadas em uma cadeira em um quarto escuro que girava rapidamente por um breve período.  Os pesquisadores também mediram os reflexos oculares desencadeados pela entrada dos órgãos vestibulares. Mais tarde, eles examinaram a estrutura do cérebro dos participantes com exames de ressonância magnética.
Em dançarinas, ambos os reflexos oculares e sua percepção de fiação durou um tempo mais curto do que nas outras voluntárias. As varreduras do cérebro revelaram diferenças entre os grupos em duas partes: uma área no cerebelo, onde a entrada sensorial dos órgãos vestibulares é processado e no córtex cerebral, que é responsável pela percepção de tontura. A área no cerebelo foi menor em dançarinos.

A pesquisa aponta que dançarinos sabem como não usar seus sistemas vestibulares, contando apenas com movimentos pré-programados altamente coordenados. Para um bailarino não é útil sentir tonturas ou desequilíbrio. Seu cérebro conseguem se adaptar ao longo de anos de treinamento para suprimir essa entrada. Consequentemente, o sinal enviado para as áreas do cérebro responsáveis ​​pela percepção de tontura no córtex cerebral é reduzido, tornando dançarinos resistentes a sentir tonturas. 

“Marcar a cabeça” não é apenas uma expressão que o seu professor fala da boca para fora. Agora temos a comprovação científica de que a fixação do olhar em um ponto ajuda na hora da dança e pode também melhorar a qualidade de vida de pacientes com tontura crônica.

Com informações do site Daily Mail

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